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Quem veio antes: o computador ou o algoritmo?

Tempo de Leitura: 5 minutos

Matemática. A verdadeira linguagem universal. O que para muitos causa arrepios e flashbacks aos tempos de escola, para aqueles que se apaixonam por ela é pura poesia. Uma dessas pessoas era Ada Lovelace, considerada a primeira pessoa no mundo a criar um programa de computador. O que faz esse feito ser tão extraordinário? Ela fez isso em uma época onde ainda nem existia a lâmpada! Seu algoritmo só foi ser completamente compreendido quase um século após a sua morte.

Na segunda terça-feira do mês de outubro, comemora-se o Ada Lovelace Day (“Dia da Ada Lovelace”). A data é uma celebração das conquistas das mulheres nas áreas STEM – sigla do inglês para “Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática”, campos predominantemente masculinos. Além disso, seria uma forma de estimular o interesse de meninas e mulheres por estas áreas. O que faz Ada Lovelace merecedora de prêmios, instituições, construções, componentes de computador, linguagens de programação e muito mais carregarem o seu nome e legado?

Inteligência de berço

Ada Byron aos 4 anos, de uma miniatura em um medalhão enviado ao Lord Byron por sua irmã. (Fonte: Wikimedia Commons)
Ada Byron aos 4 anos, de uma miniatura em um medalhão enviado ao Lord Byron por sua irmã. (Fonte: Wikimedia Commons)

Nascida em Londres, Augusta Ada Byron (1815 – 1852) teve o privilégio de ter um ensino de qualidade em uma época em que poucas pessoas o tinham, ainda menos as mulheres. Isso porque os pais de Ada – Lord e Lady Byron – vinham de famílias de classe alta e linhagens influentes.

Se esse sobrenome lhe soa familiar, não é à toa: Lord Byron foi um dos maiores nomes das literaturas inglesa e romântica.

A loucura da poesia

Lady Anne Isabella Noel Byron separou-se do marido quando Ada tinha pouco menos de 2 meses de vida por suspeitas de que ele estava enlouquecendo. Isso, além do fato de ele ter os colocado em uma situação financeira complicada. O poeta faleceu quando a filha tinha apenas 8 anos e não teve praticamente nenhum contato com ela nesse tempo. 

Lady Byron temia que a poesia fosse a culpada do que afligia seu ex-marido. O medo desta mesma “loucura” apresentar-se em sua filha a levou a estimular o interesse de Ada pelas ciências exatas assim como ela. Tanto se esforçou para afastar a filha do mesmo destino que o pai, que Ada só foi apresentada a um retrato dele aos 20 anos de idade.

Spoiler: não funcionou, pois a própria Ada dizia ver a poesia nos números. Podemos dizer que a amálgama das paixões de seus pais predispuseram Ada a ser quem foi, mesmo que nenhum deles necessariamente apreciasse a menina. Seu pai esperava um “glorioso garoto” e decepcionou-se com a chegada da menina – sua única filha legítima. Enquanto sua mãe se referia a ela como “aquilo” em cartas à sua própria mãe – avó de Ada – que cuidava dela e a amava muito.

Sua curiosidade e inteligência eram notáveis: Ada mal havia entrado na adolescência quando se interessou pela “arte do vôo”. Sua gatinha de estimação capturava pássaros no quintal e a menina os examinava. Ela registrava suas anatomias com notas e ilustrações em o que ela chamou de “Vôologia” (Flyology). Ada chegou a construir para si um par de asas e buscava uma forma de integrar um motor a vapor em sua invenção. E você aí achando que se pulasse do telhado e batesse os braços viraria uma águia…

Um encontro que mudaria o mundo

Em 1833, quando tinha em torno de 18 anos, Ada foi apresentada ao matemático Charles Babbage e ficou encantada com sua invenção: a Máquina Diferencial. Lembrando que na época ainda não havia eletricidade, a máquina de Babbage era essencialmente uma enorme calculadora mecânica. Essencialmente, Babbage esboçou o primeiro computador: uma máquina capaz de receber dados, processá-los, armazená-los e devolver um resultado preciso. O governo britânico estava interessado nas possibilidades da invenção e financiou o projeto inicialmente.

Charles encantou-se com a inteligência e habilidades analíticas da menina, assim como seu fervoroso interesse na sua máquina. 

Porém, não muito tempo depois de conhecer Babbage, Ada precisou dedicar-se às responsabilidades de uma mulher de sua época. Casou-se com o Barão William King – posteriormente Conde de Lovelace -, com quem teve três filhos. Mas seu amor pelo conhecimento nunca se esvaiu. Ada seguiu seus estudos em diversas áreas e manteve contato com Babbage, que a apelidou de “Encantadora de Números”.

Ada Byron aos 17 anos (1832) (Fonte: Wikimedia Commons)
Ada Byron aos 17 anos (1832)
(Fonte: Wikimedia Commons)

As notas de Ada

Alguns anos depois, em 1840, Babbage descreveu sua nova invenção: a Máquina Análitica. Inspirada nos teares que utilizavam cartões perfurados para criar desenhos na malha e mais complexa que a sua predecessora. O italiano Luigi Menabrea detalhou a novidade em um artigo, e ninguém menos que Ada seria capaz de traduzi-lo. Ada ainda foi um passo além, incluindo notas a fim de explicar o propósito e o funcionamento da máquina. 

Afinal, Babbage e Ada estavam tão à frente do seu tempo que boa parte dos demais cientistas da época tinham dificuldade em entender como a Máquina Analítica funcionava. Só em meados de 1940 surgiu uma nova invenção que incorporava os conceitos apresentados por Babbage e Ada. A versão anterior – a Máquina Diferencial – só foi construída por completo em 2002. Sim: DOIS. MIL. E. DOIS.

Ao longo de sua tradução, as notas de Ada foram ficando maiores… e maiores… e maiores… até que ultrapassaram o tamanho do próprio artigo

Ada conseguiu ver potencial na Máquina Analítica que o próprio Babbage não viu: números poderiam ser substituídos por símbolos ou notas musicais. Isso significa que a máquina poderia gerar imagens e até tocar música, com as configurações certas. Uma destas, a Nota G, continha as instruções para a máquina calcular uma sequência de Números de Bernoulli. Isto é, antes mesmo de existir uma máquina capaz de computar cálculos desta complexidade, Ada já havia preparado um algoritmo!

Diagrama de um algoritmo  para a Máquina Analítica para a computação de números Bernoulli, de "Sketch of the Analytical Engine invented by Charles Babbage" de Luigi Menabrea com notas de Ada Lovelace
Diagrama de um algoritmo para a Máquina Analítica para a computação de números Bernoulli, de "Sketch of the Analytical Engine invented by Charles Babbage" de Luigi Menabrea com notas de Ada Lovelace

A primeira programadora

Não foi tudo rosas nas trocas entre Ada e Babbage. Ao longo dos anos, sua amizade e parceria passaram por momentos turbulentos. 

Pensa só: havia exatamente UM engenheiro de hardware e UMA engenheira de software NO MUNDO e eles já estavam de briga. Veja este trecho que traduzimos de uma carta, retirado do livro Ada, the Enchantress of Numbers de Betty A. Toole:


Queria eu que você fosse tão preciso, e tão confiável, quanto eu mesma sou.
Você frequentemente me pouparia muitos problemas, caso o fosse; quando na realidade você acrescenta aos meus problemas não infrequentemente; e há de qualquer forma sempre a ansiedade em duvidar se você não me colocará em apuros; mesmo quando não o faz. Aliás, espero que não assuma você fazer alterações em qualquer de minhas correções.
Devo implorar que não o faça. Todas têm razão suficiente. E você já fez uma bela bagunça e confusão em um ou dois lugares (os quais lhe mostrarei em algum momento) [...]


Tem coisa que não muda né?

Alguns defendem que, na verdade, os créditos devem ser dados a Babbage pela criação do primeiro programa. Apontam que a contribuição de Ada para a Máquina Analítica foi de apresentar uma operação mais abstrata da invenção e de facilitar a divulgação a seu respeito.

Contudo, sabemos que a contribuição de Ada ajudou a transformar a percepção da máquina de Babbage de uma calculadora para um computador. Seu trabalho foi fundamental para preparar terreno e abrir caminho para a tecnologia que temos hoje.

Ada Lovelace faleceu em 1852 de câncer uterino, aos 36 anos de idade. Ela foi enterrada ao lado de seu pai na Igreja de Santa Maria Madalena em Hucknall, Nottinghamshire. Mas seu legado vive através de tudo aquilo que pudemos construir graças aos esforços de uma menina inteligente, inquisitiva, apaixonada por números e com uma visão muito, muito além do seu tempo.

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Ana Paula Spier López

Ana Paula Spier López

Analista de Marketing
Mãezinha da Evy 🐶
Designer | Artista | Curiosa

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